artigo por Julio Campos
Quando caíram aqui, há quinhentos e tantos anos, os portugueses tiveram uma doce surpresa. "Terra à vista", disseram. E que vista.
Uma paisagem de cair o queixo, uma fotografia digna dos deuses. E ao olhar aquilo sentiram-se donos, tomaram posse, como um homem que se sente dono de sua mulher. Era uma jóia encontrada por acaso, uma pedra preciosa que não cabia em seus olhos. Não, era preciso leva-la pra casa.
E levaram. Extraíram o que puderam. Cortaram, cavaram, queimaram e até matar eles fariam, se fosse preciso. Só que estamos falando da mata-atlântica, um império ambiental, e por mais que levassem o que levassem, era apenas uma lágrima em um rio. "Levem, levem até que cansem, e então esqueçam e sumam."
Mas eles voltaram. E desta vez para ficar. Construíram nossas capitais, consumíram nossa matéria-prima, e como inquilinos indesejáveis, destruíram. E as lágrimas foram saindo dos rios, aos prantos. 500 anos depois, resta um último choro. 5% do mais belo ecossistema litorâneo do mundo. Os 7500 Km de costa mais famosos do planeta, em risco de extinção.
A mata-atlântica é imagem de todo um país lá fora, com o nome de Rio de Janeiro. E nós somos isso que vemos. Não somos a América feia, lá de cima, predestinada ao desenvolvimento as custas da natureza, onde na terra pouco se cresce, na água pouco se vive e o ar pouco se respira. Não, nossa imagem é o espelho desse ecossistema, é a moldura do atlântico, é o nosso cartão de visitas. E preserva-la não é manter as aparências, é conservar quem somos.
Gigante pela própria natureza? Cuidado, ó pátria amada, para não encolher.